O professor, ao começar respondendo a pergunta chave sobre qual foi a sua história na profissão docente, afirmou que se existisse uma possibilidade de escolha através de uma nova vinda em outra vida, escolheria ser de novo professor de história ou de literatura, que gosta também, porque sua escolha foi verdadeira. Através dessa narrativa busco contar um pouco da história de vida desse professor de história incrível, que foi através do vestibular que pude conhecer e fazer uma bela amizade com este que considero um intelectual incrível!
Obrigada Aldemir!
A idéia de ser professor de história surgiu quando Aldemir criança era filho de um pai politizado. Visto que, este era um barbeiro da praça Sans Peña e tinha uma vida política que ia de encontro para o lado da esquerda, para o Partido Comunista Brasileiro, sendo descendente de imigrantes italianos, que começou a trabalha aos 9 anos como operário. Isso começou a despertar o Aldemir criança que acompanhava com curiosidade e atenção aquelas reuniões muitas das vezes feitas em sua casa, no subúrbio do Rio de Janeiro. Despertando dessa forma o interesses pelas questões sociais.
No primário Aldemir até se dava bem nas matérias de exatas, as chamadas ciências exatas, que em sua opinião é uma pretensão chamá-las assim, porque as ciências estão sempre se reformulando, sempre se atualizando. Contudo, quando entrou no ginásio, teve uma professora de álgebra, que o apelido dela era viúva negra, que escrevia e explicava para o quadro e ninguém entendia nada. Inclusive Aldemir, que passou a repelir e a preferir as matérias das áreas de humanas, que tinha geografia, história, literatura e latim.
Com 15 anos começou a trabalhar numa multinacional chamada Shell, isso começou a sobrecarregá-lo muito, pois trabalhava de manhã e estudava a noite. Chegou até a parar de estudar durante dois anos, mas quando voltou resolveu, no ensino médio optar, enfatizar as matérias chamadas clássicas, que eram as humanas. Então, trabalhando na Shell ainda e estudando a noite, o interesse pela história começou a interessar, visto que era época da ditadura militar, repressão, e a história era vista para os jovens como uma arma, instrumento de luta, contra tudo aquilo que estava sendo implantado no Brasil. Então Aldemir começou a questionar-se onde ele iria fazer história, o fazer história, deveria ser no local onde tivesse menor intervenção militar.
A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) tinha um notório “dedo duro” que se tornou chefe do departamento de história que começou a “limpar” o departamento, tirando os elementos considerados indesejáveis, excelentes professores que de algum modo não concordavam com a ditadura. Esses professores foram demitidos da UFRJ e muitos passaram para UFF (Universidade Federal Fluminense). Então Aldemir começou a entender que queria ser professor de história e fazer história na UFF. E conseguiu. Um ano parado só para estudar para o vestibular, quando viu, só tinha restado dinheiro para a inscrição da UFF, e passou bem colocado. Ele disse que teve sorte ao ter pegado também uma turma boa, que por exemplo um dos alunos era Chico Alencar, deputado atuante. A turma era de 1970, época do auge da repressão, milagre econômico. O que lhe impressionou também foi que muitos professores tinham posicionamentos interessantes e que não se calaram diante da ditadura.
Com três meses de faculdade foi chamado logo para dar aula em um curso de supletivo, o mercado era bom, mas em casa ele já tinha uma turminha de vestibular também. Foi nesse curso que teve a primeira experiência em sala de aula, a primeira aula foi sobre a transição do feudalismo para o capitalismo, ele disse que saiu de alma lavada, pois tinha estudado muito em casa antes de dar aula, achando que tinha dado a melhor aula de todos os tempos. No dia seguinte ao subir as escadas, escutou um aluno dizer que lá vinha aquele professor que ninguém entendia nada do que ele dizia. Essa foi a primeira lição de didática pedagógica, foi uma lição prática para ele sempre ter cuidado com o nível de vocabulário, sempre adequando o vocabulário aos alunos que se está trabalhando. Ele chama delito pedagógico quando em provas utilizam vocabulário muito rebuscado, como por exemplo, falar de catolicismo, como catolicismo estruturalmente sincrético, ou ao invés de falar capitais estrangeiro falar capitais forâneos. Quando se faz uma prova, deve saber dosar o nível de dificuldade das questões, aprendeu isso, em correção de provas e elaboração de concursos.
Um belo dia foi indicado pela direção da faculdade, estava no 5º período da graduação de história, para trabalhar no Centro Educacional de Niterói, como professor ganhando o teto. Teve a felicidade de trabalhar com autonomia, independência intelectual e ideológica, pois trabalhava com uma diretora que era uma fantástica pedagoga. "Ela sempre assegurou essa liberdade, e olha que era o auge do governo Médici em 1972. Então foi com a experiência de trabalhar no Centro Educacional que era uma escola de vanguarda, experimental e construtivista que aprendi a usar a criatividade com autonomia ideológica, que utilizei vários recursos pedagógicos como painés, pesquisa de campo, seminários e simulados que ajudavam o desenvolvimento dos alunos.", diz Aldemir.
Teve como experiência, também, 11 anos no ensino superior na Faculdade de Humanidades do Pedro II, em São Cristóvão, como professor de história no período da noite. Devido a problemas financeiros da instituição pediu pra sair. O colégio que ele diz ter amado mais em sua vida foi o Pedro II, pois ele estudou um período lá e passou no concurso para ser professor de história. No qual, trabalhou 20 anos e se aposentou. O modelo de escola do Pedro II era ainda tradicional, contudo com as experiências tidas no Centro Educacional buscou ir modificando algumas linhas pedagógicas, sendo um desafio. Foi no ano 1980 que passou no concurso. O Pedro II valoriza o seu passado, pois ele é desde 1837. Foi um colégio de formação de grandes intelectuais brasileiros como Machado de Assis.
Hoje em dia ele tem se dedicado a divulgação de seu livro, O Guia Prático de História, que é um manual de complementação didática, a fim de facilitar a vida do estudante. Tem trabalhado muito com projetos em Power Point, os títulos das apresentações são: Uma viagem na História do Brasil com parada na estação república, História Geral -breve séculoXX- e África, um novo horizonte, afim de enfatizar que a África possui uma história.
Para finalizar, disse que o estudante de história deve ser curioso, tendo sensibilidade em destacar as questões mais relevantes em uma sociedade.
Aldemir Maia Batissaco, casado com Fernanda Batissaco, formado pela UFF, foi professor coordenador do Colégio Pedro II, no Rio de janeiro; professor e coordenador de História no Centro Educacional de Niterói; professor de História do Ensino Médio do Estado do Rio de Janeiro; professor adjunto de História Econômica Geral e do Brasil e História Moderna e Contemporânea da faculdade de Humanidades Pedro II, no Rio de Janeiro, tendo participado de bancas de elaboração e correção de provas no Colégio Pedro II, na UNIRIO, na Fundação Cesgranrio e na UFFRJ.
Fui aluno do Aldemir nos anos entre 1971/2 a 1975. Fez eu começar a gostar de história. Um professor de mãos cheias, daqueles que seria um desperdício se fossem fazer outra coisa.
ResponderExcluirUm grande professor, um ser humano maior ainda. Ele e seus colegas no Centro Educacional de Niterói fizeram o impossível, criar uma geração que pensava no auge do governo militar.
Helio Diamant
Conheci Aldemir quando trabalhava na Shell, ótimo colega, sempre dedicado aos estudos. Parabéns pelo sucesso.
ResponderExcluirAntonio José (funcionário da Chefia de Telecomunicações)
Fui aluno do Aldemir no Centro Educacional. Naquele colégio, durante sete anos, tive, na verdade, apenas três grandes professors (que me perdoem os demais): o Aldemir, o professor de Geografia, José Luís, e o professor de matemática, Arago. Leio muito História até hoje, um pouco de tudo, biografias, História Antiga, História Medieval etc. História tornou-se um vício, além de ser um instrumento essencial no exercício da profissão que escolhi. Mas às vezes me aventuro em buscar na minha estante um velho manual de álgebra para me divertir. O verdadeiro professor é aquele que empolga o aluno, que o encoraja a querer daber mais, ler mais, descobrir, questionar. O Aldemir faz parte desse seleto grupo. Parabéns por todo esse belo percurso de vida, Aldemir.
ResponderExcluirFernando Apparicio
Hanói, Vietnã